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Got the following email from Roberto Itubok:

I just launched my first book and I chose to publish it as an ebook. It is a collection of short stories about family relationships and how people cope with difficult relationships. It is written in Brazilian Portuguese.
 
As a promotion the book will be available for free at Amazon until June 29.
 
Please find attached one of the short stories included in the book. Feel free to post this short story in your blog/site.
 
I appreciate the divulgation and comments!
Thanks,
Roberto Itubok

Conto “Erro”

 

(livro “Fragmentos Familiares”)

 

 

Roberto Itubok

 

 

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Erro

 

Eu errei. Passei as últimas horas em dúvida e posso escolher não contar para ninguém, mas aqui no escuro sozinha, eu tenho que admitir para mim mesma que eu errei. Eu deveria ter dito que o resultado do exame não estava pronto e, assim, deixá-la esperando. Em seguida, acessaria o sistema, pegaria o telefone da casa dela e ligaria:

– Eu poderia falar com o responsável por Maria Cristina dos Santos?

– Quem é?

– Aqui é a Dra. Marina Cordeiro, do Hospital Universitário.

– Do hospital?

– Sim, nós estamos aqui com a paciente Maria Cristina dos Santos e…

– Ela está no hospital? – uma voz feminina e preocupada interromperia-me.

– Ela está bem, mas é importante que o responsável por ela, o pai ou a mãe…

– Aqui quem fala é a mãe dela. Meu nome é Lourdes.

– Sra. Lourdes, ela está aqui no pronto socorro, fique tranquila, ela está bem, mas é importante que você compareça.

– Claro, claro, já estou indo aí.

A maior parte das pessoas que frequentavam o hospital moravam lá perto e em pouco tempo a mãe chegaria ao hospital. Ao vê-la, talvez a menina ficasse surpresa e criasse alguma cena:

– Como assim você chamou a minha mãe?

Seria um problema. Entretanto, em uma sala só nós três e com um pouquinho de jeito:

– Olha Maria, eu chamei sua mãe aqui porque fiquei preocupada com o que estava acontencendo com você. Ainda não falei nada sobre o motivo de você ter vindo aqui hoje. Eu gostaria de dar uma chance para que você possa contar a verdade para ela.

 

Então, ela provavelmente faria uma cara emburrada e depois, ao ver-me irredutível, talvez chorando contaria que veio fazer teste de gravidez. Ou talvez eu esteja sendo otimista demais e simplesmente ela falaria de maneira arrogante que tinha vindo verificar se estava grávida, como se estivesse fazendo a coisa mais natural do mundo. Seja como for, neste momento seria torcer para a mãe ter o bom senso de não agredir a filha na minha frente, afinal, chega de problemas. Enfim, com a mãe ciente, eu daria o resultado negativo para as duas, que voltariam para casa com uma questão a ser resolvida e eu ficaria com a consciência tranquila e com a sensação de que aquele problema não era mais meu. Em outras palavras, canetaria “teste negativo, paciente e mãe cientes, alta hospitalar acompanhada da mãe”. Aquele problema não seria mais meu.

Não foi isso o que aconteceu. Eu tinha ficado indignada com a menina ter o descaramento de pedir teste de gravidez em um plantão de pronto socorro da pediatria, rindo como se estivesse pedindo ingresso para o parque de diversões. Eu não via a hora de dispensá-la e poder me concentrar nos pacientes realmente graves. Torci muito para que o teste viesse negativo e eu pudesse simplesmente dizer “Negativo, vá embora”. E foi o que aconteceu.

 

Tinha quatorze anos e naquela tarde viera a um pronto socorro, sem os pais, para ver se estava grávida. Com essa idade as meninas de hoje em dia já sabem de onde vêem os bebês e o mais provável é que ela tenha tido alguma relação sexual e tenha ficado preocupada. Ou melhor, na dúvida. Afinal, ela não parecia nem um pouco receosa e é bem possível que ficar grávida fosse algo que ela desejasse. Um desejo equivocado, que iria custar-lhe a oportunidade de dedicar-se aos estudos e mudar de vida. Entretanto se fosse como tantas outras meninas, ficar grávida poderia significar uma mudança no status: deixaria de ser menina e passaria a ser mãe e, assim, imaginaria, sua vida talvez melhorasse e ela passasse a ser mais respeitada. Seja lá o que aconteceu na vida dessa menina, provavelmente voltaria a acontecer.

Na verdade, eu não sei nada sobre essa menina. Eu simplesmente estou frustrada porque não fiz direito, esse e tantos outros atendimentos – é tudo tão corrido! E também porque nesse sábado de madrugada eu estou deitada nesse beliche de colchão duro no qual, na melhor das hipóteses, conseguirei dormir por uma hora nesta noite. Além disso, minha barriga pode não ter crescido tanto assim, mas no oitavo mês já percebo que fica ainda mais incômodo dormir. Então, seja lá o que acontecer com a menina, é melhor eu tirar isso da cabeça e adormecer logo.

 

 

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A íntegra do livro pode ser encontrada na Amazon.com

– basta procurar por Fragmentos Familiares –

 

 

Entre em contato com o autor / Connect with the author

 

Roberto Itubok

robertoitubok@gmail.com

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